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Pequeno rol das miudezas – inventar documentar 2
Dancei bruxaria no pedras22 com defumação de sálvia ao final
era um email ao rogério nuno costa que flutuava pelas águas dos alguidares,
até a finlândia, mas qualquer um podia adicionar frases para se banharem. muitas
foram se dissolvendo nos alguidares, sem entretanto desaparecerem completamente
no beco do índia os vizinhos comentavam como era bom o barulinho d´água
mas ninguém precisa de chamar nem de dança, nem de performance, nem de
instalação. eu sim. me veio o sonho talvez delírio de que é possível continuar
ser-estar-fazer espaço onde a gente possa estar desconstrangida na ideia que delas realizo
inclusive no próprio fazer dança, como não me entupo em ideias quando estar junto é a primeira coisa de todas?
bernardo rb
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Pequeno rol das miudezas – inventar documentar 1
Documentação da dança-performance-instalação com alguidares d’água onde as pessoas que testemunhavam como público eram convidadas a deitar os textos que escreviam molhando-os no Beco do Índia, em Lisboa
Um cidade desde sempre cheia de bruxas
foto e texto e dança bernardo rb
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já não é ontem e ainda não é amanhã, talvez o agora tenha uma profundidade mais complexa do que o símbolo X no mapa de acontecer-2
não resolver, caminhar caminhando, adentrar o não saber, estou a aprender outras
camadas, outras escalas desses ensinamentos:
está muito vento, dentro do mar tenho que manter-me mergulhada só com os olhos de fora
como ensinam os hipopótamos. quando saio, esbracejando e esperneando como se
desejasse também mexer o ar, pego num saquinho de plástico com uvas.
cacho na mão, saco na ventania.
largo a andar atrás do saco voador, sei que corro o risco de deixar de o ver, de o perder na
paisagem, sei que não posso correr nas dunas porque os tornozelos não apreciam esse
esforço…e porque a velocidade do vento é muito superior à minha…
estou a lidar com um acontecer que não está na minha frequência…resolver, em humanês,
seria fazer-me super-mega forte e passar para a frequência deste acontecer, mesmo
destruindo umas vidas próprias.
não resolver, em sofiês, é não desistir daquilo que me move, continuar caminhando,
respeitar profundamente o desejo do saco voador, o desejo do vento movente, das areias
quentes e soltas, do andar-sofia… é não deixar o foco colapsar e também não permitir que
ele me encandeie. não me assustar com a convivência de possibilidades, não me deixar
estrangular pelo horror de poluir a praia, não amolecer na confiança da co-existência de
velocidades.
num momento o saco abraça-se a um tufo de picos, fica latejando, rindo. sei que corro o
risco que a dança do vento o desprenda desse encontro. vejo o que pode ter sido e o que
poderá vir a ser e não suspendo o amor de caminhar… talvez já seja noite quando chegar
perto do abraço.
o tal agora revela uma complexidade densa, retira-se da linha narrativa onde se aprisiona
entre o passado e o futuro e deixa aparecer… outras coisas.
apanho o saco e trago-o de volta para o cesto.
sofia -
já não é ontem e ainda não é amanhã, talvez o agora tenha uma profundidade mais complexa do que o símbolo X no mapa de acontecer-1
vou já escorregando nas palavras, chorando as que teimam em aparecer sem brilho,
naquela repetição de tanto as trazer à escrita. parece que elas às vezes formam uma lente
de não ver através… não as palavras, pois, essas são livres e libertadoras, a forma-sofia de
trazer rabiscos e sons a que chamamos palavras, se estivermos desatentas…
desconfio que a grande revolução, o grande tremor que permite largar as capas pegajosas e
as cruzes perfuradoras e as mordaças, correntes, paredes de cimento… está na boca-fala-
escrita… durante muitos anos foi possível sufocar a fala que a dança fala afirmando que a
dança é “não verbal”… à sombra dessa informação triste tem sido possível estar com a
poesia do gesto, a dança, enquanto uma forma de conhecimento destituída de fala.
como se se administrasse um analgésico sobre a vibração da dança para que ela pudesse
brilhar sem doer…
como se a boca-fala-escrita tivesse que ser palpável, audível, visível…
temos um caminho imenso a percorrer naquilo a que chamamos sentir.
sofia -
o rapaz que levou a trotinete à mão, ou, o rapaz levou a trotinete à mão
muita gente a dormir na rua! algumas pessoas tão atarefadas que parecia ter mesmo acabado de mudar para debaixo da ponte estendendo diante de si todo um ajustamento, uma organização, uma criação de casa, que prometia não ser breve…
quando começaram as canções acompanhadas à guitarra fomo-nos alindando ao longo da linha do passeio estreito, encostadas às pinturas do interior do arco, parecia que o convite à música estava lançado e aceite por entre o silêncio.
vou começar de novo
há acontecimentos que tendem a não desacontecer, como se a ressonância desse acontecer continuasse a trazer ondas de aprender.
o rapaz que vinha de trotinete desacelerou a viagem e ao chegar à boca do arco pegou na trotinete à mão e passou lentamente, sem olhar para nós, apenas atravessando.
não senti um gesto moralista querendo dizer aos carros que passavam ruidosamente que há outras formas de estarcom.
também não senti que fosse um gesto representante de uma educação primorosa.
senti simplesmente que quando ele pegou na trotinete na mão atravessando a canção ele não estava a ser-fazer mais nada
e quando se tocam assim os gestos, sem se quererem inscrever nas histórias de vida, ou ditar outras ritmicidades, ou mudar caminhos, abre-se uma bolsa que envolve os corpos que co-aconteceram numa cumplicidade emocionante.
em segredo cada umaum tem em si o momento em que o rapaz levou a trotinete à mão.
sofia
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SonHo 5º dia: fotos acompanhantes
Silêncio-estar c/ Marta – Adamastor/Travessa da Laranjeira
À espera… c/ Luz – Largo S. João Nepomuceno
Concerto Pedro & Júlio – Regueirão dos Anjos
Conversa-cidade c/ Ana, Fernando e Luís – Tigre de Papel
Concerto Adufe & Alguidar – Tigre de Papel
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SonHo 4º dia: fotos acompanhantes
Dia selvagem com Carlos, Ana, Coline, Saldek e seus companheiros equinos – Valejas (Barcarena)
Fotos: Álvaro
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SonHo 3º dia: fotos acompanhantes
Cabaret Tri Tri Tri – Caracol da Graça
Cantigas do Pedras – Jardim da Graça
Concerto Jacarandá – Coreto da Graça
Fotos: Álvaro
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à espera
Estar à espera que o lugar aconteça como quer acontecer a cada dia: pode ser o saxofone ou piano, ou os 4 telemoveis a bombar roque oriental, ou o pai com o bebe, ou o cão, ou a Susana e a Marta, ou os fios, e o gato. Vou chegando devagarinho, e submergindo na folhagem, que brinca no chao da calçada, nos muros, no ceu, na brisa que sopra as vezes, e o gato. Posso até reparar na caravela restaurada, nas grades, no lixo sempre curioso, na rapariga que fuma sentada à janela, e o gato.
E dias houve que nada! Nem o gato. A impaciência não deixa que eu sinta o lugar a acontecer.
E a possibilidade maravilhosa de brincar, por exemplo, com os sons: trazendo o som da ponte para primeiro plano ficando os telemoveis como baixo, ou a conversa da rapariga da mochila cheia de pão a chegar e depois em fade out.
Quase sem querer, quase como se fosse assim mesmo.
Vamos deixar que as nossas atmosferas teçam uma bonita dança juntas.
Este é um convite para estarem à espera comigo amanhã às 16h no Largo de S. João Nepomuceno (final do elevador da bica virando à direita na rua dos cordoeiros à Bica)
Luz
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SonHo 2º dia: fotos acompanhantes
Conversa com Christine Greiner – Coreto do Jardim da Estrela
Rádio Corpo – Jardim da Estrela
Casa Daninha c/ Guilherme Allain – Rua Poiais de S. Bento
Microbaile “A salto à rua” – Rua Poiais de S. Bento / Rua de S. Bento
Fotos: Álvaro