Demora sob a azinheira-caramanchão (5): musgos e líquenes

Entre os seres notáveis que povoam as zonas mais sombrias (mas não só) das imediações da azinheira-caramanchão, destaco dois que me têm fascinado: os musgos (grupo mais antigo das plantas terrestres) e os líquenes (holobiontes que juntam um parceiro fotoautotrófico – alga e/ou cianobactéria, o fotobionte – com um ou mais fungos, os micobiontes). À medida que tenho praticado o encontro com estes dois grupos de organismos, que convivem muitas vezes lado-a-lado, o meu olhar vai percorrendo os troncos das árvores, a superfície das pedras ou o próprio solo, à procura da sua presença. Tenho assim constatado não só a sua surpreendente omnipresença e diversidade, como também algumas peculiaridades na sua localização ou nas especificidades de associação com certas árvores. Por exemplo, apenas no muro virado a norte que delimita a Tapada da Ajuda, encontrei um líquen que desenha uns belíssimos padrões concêntricos, assim como um musgo que se espalma na superfície, lançando ramificações rastejantes em diversas direcções. Já na casca dos pinheiros mansos, e apenas aí, encontrei um líquen de cor amarela fluorescente, que se assemelha a pó ou a uma tinta (a sua designação em inglês é elucidativa: ‘mustard powder lichen’). E apenas nos troncos dos freixos encontrei um outro líquen que lança umas peculiares projecções ramificadas. Um aspecto que me apraz destacar é que em qualquer dos casos, em face da sua longevidade como grupos distintos e apesar de alguma diversificação ecológica e geográfica, as espécies actuais de ambos os organismos retêm estruturas e modos de viver que não deverão diferir muito das dos seus ancestrais, que terão surgido há algumas centenas de milhões de anos. Ou seja, o seu aparente sucesso evolutivo e ecológico não parece ter dependido de elaboradas inovações ou complexificações. A simplicidade e a frugalidade são na verdade, em muitos casos, atributos de modos de vida resilientes e prósperos.

Álvaro

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